terça-feira, 22 de maio de 2012

3. Conceitos freireanos iniciais (que foram se modificando, reformulando ou sendo substituídos ao longo da produção teórica):

    • Ação-Reflexão-Ação (Práxis)
    Para Freire, o homem é um ser histórico que modifica o meio. ao modificar... Ele aponta a necessidade da reflexão crítica sobre a prática como essencial para a modificação da realidade, onde os homens tomam consciência de si, livrando-se da condição de oprimidos, através da educação como prática da liberdade.
    A palavra não pode ser reduzida, como ele afirma, ao verbalismo, nem ao ativismo. É preciso que haja relação do pensamento com a ação, que é práxis, em busca da libertação do opressor, este que nega-lhe o direito de dizer a palavra. 
    Para Freire, o homem precisa de uma teoria que o insira na realidade, que faça-o comprovar o existente. E é através da teoria e prática que ele pode agir e refletir sobre o contexto concreto, em busca de cumprir um caráter transformador sobre essa realidade, na relação homem-mundo.
    • Conscientização
    A consciência do mundo se dá através da relação de dialogicidade entre o homem e o mundo.  Embora não pertencendo a Paulo Freire, esse vocábulo está associado ao seu pensamento pedagógico e refere-se ao desenvolvimento crítico da tomada de consciência. É a superação da consciência ingênua, a partir da consciência crítica que ocorre quando o homem se apodera da realidade, transformando-a.
    Essa modificação da realidade é o que se chama conscientização. Somente através da práxis o homem toma consciência de si, dos outros e do mundo.
    • Participação
    Esse conceito ganha em Freire uma intenção de atuação na realidade, através das relações dialéticas, coletivas, entre o sujeito e a sua realidade cultural e histórica. Também deve ser pensada enquanto integração no sentido de poder criar, recriar, decidir, intervir , desafiando a imobilidade do estar oprimido. Sendo coletiva, a participação atinge um caráter de abertura para aprender, organizar, anunciar, construindo coletivamente dentro das identidades postas, gerando situações em que o diálogo e o conflito fortalecem o elo em analisar as inquietações e problemas vivenciados, ato essencial para pensar a mudança em beneficio da igualdade entre os homens.
    • Diálogo
    A dialogicidade vem promover o encontro do homem com o mundo, pronunciando-o através da palavra dita, permitindo-lhe ganhar significação. O diálogo não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito ao outro, muito menos como uma simples troca de ideias. Na verdade, precisa ser vivida através da interação entre os sujeitos, num ato de criação.
    Se o diálogo é uma relação de A com B, nutrindo-se de amor, humildade, esperança, fé e confiança, o anti-diálogo se mostra numa relação de A sobre B, refletindo a não humildade, a acriticidade, a arrogância e a auto-suficiência.
    • Assistencialismo
    Caracteriza-se numa variante da ação em que apenas se aliena, já que se deposita dados e conhecimentos, mostrando-se desinteresse no dialogar, sobrepondo-se ao que o outro sabe, cortando a iniciativa e promovendo a dependência dos sujeitos . É, em suma, um rompimento ao processo de conscientização, inviabilizando a libertação da pronúncia.
    • Processo de Transição/Transitividade
    É um período de busca da plenitude, é uma constante... Esse significado, em Freire, nutre-se num processo histórico, com vistas a ser precedente, circular, global.
    Segundo Freire, nos processos de transição, o caráter preeminentemente estático da “sociedade fechada” dá lugar, progressivamente a um dinamismo que se apresenta em todas as dimensões da vida social.
    No momento em que o sujeito chega a uma reflexão mais aprofundada nas dimensões da vida social, aproxima-se também, cada vez mais, do esclarecimento das facetas da desigualdade em sua história. Então, essa transitividade torna-se uma superação quando se pensa em dar vazão ao conhecimento outrora estático.
    • Educação: instrumentalização e conscientização
    • Crítica ao formalismo pedagógico da escola
    • Papel da escola nos projetos de mudança e emancipação da sociedade
    Freire propõe uma educação que promova o desenvolvimento de sujeitos capazes de intervir na realidade criticamente, transformando-a através da reflexão-ação, preparando-os para os desafios do mundo globalizado. Cabe a ela propor aos sujeitos uma educação problematizadora, onde os sujeitos poderão transformá-lo e não se adaptar a ela. 
    • Visão do bem comum e da massificação
    • Educação Bancária
    • Tema Gerador
     O conteúdo programático da educação é encontrado na realidade mediatizadora, na consciência do homem sobre o mundo. Freire afirma que além de possibilitar sua apreensão, a investigação sobre o tema gerador insere ou começa a inserir os homens numa forma crítica de pensarem o mundo. Portanto, ele não se encontra no homem isolado da realidade, nem na realidade separado do homem. Mas só pode ser compreendido nas relações homem-mundo.
    • Investigação Temática

    8 comentários:

    1. • Educação Bancária

      É o antagonismo da educação problematizadora e libertadora pregada por Paulo Freire, haja vista que a prática bancária caracteriza-se por sua essência antidialógica. Com efeito, Freire estabelece uma analogia entre o modelo de educação opressora e o funcionamento de um banco. Assim, o educador que segue esta perspectiva deposita no educando o conteúdo programático da educação imposta pelos dominadores, como se depositasse dinheiro numa instituição financeira.
      O modelo de educação bancária caracteriza-se, então, pela ausência da comunicação entre os principais agentes do processo educativo: educador e educando. Podemos destacar a transmissão de conteúdo, feita pelo sujeito que julga-se sábio (docente) e a sua memorização mecânica, feita pelo sujeito que julgam nada saber (discente) como a estrutura deste panorama educativo. O conhecimento, enciclopédico apresentado ao educando tende a adequá-lo à realidade idealizada pelos opressores. O discente torna-se um mero reprodutor de ideias e “conhecimentos” que não contemplam sua consciência crítica, mas uma formação autômata. Para Freire, a educação bancária serve à dominação, ao passo que a educação problematizadora engaja-se com a libertação.

      • Tema Gerador

      O tema gerador constitui o conteúdo programático da educação como prática de liberdade. Este tema suscita outros inúmeros temas, que podem se diversificar de acordo com o contexto de cada sociedade. Os temas geradores expõem uma problemática existente, com a finalidade de debatê-la e evidenciá-la. Deste modo, estão relacionados às situações-limite - condições que em dado momento histórico são difíceis de serem superadas na realidade concreta dos homens. Temos como exemplo de situação-limite o caso dos países subdesenvolvidos, onde há o problema da dependência aos países desenvolvidos. Para superar tal situação os países de Terceiro Mundo devem ter independência do país no qual se encontram submissos.
      Cabe ao educador identificar os temas geradores que permeiam a realidade do educando e propor a transcendência destes. As situações-limite geralmente são favoráveis aos opressores, que atuam no sentido de manutenção destes problemas. Assim, o oprimido costuma não vislumbrar aquilo que Freire coloca como “inédito viável”, não percebendo ou negando a existência dos óbices que inibem a transformação de sua realidade.

      • Investigação Temática

      Freire acredita que o homem imerso no contexto opressor não consegue contemplar a realidade em que se encontra de maneira plena, ou seja, a compreensão se realiza de maneira parcial ou fragmentada. Deste modo, a investigação temática deve ocorrer por meio de uma metodologia conscientizadora. Tal processo acontece através da análise da situação existencial concreta (cuja representação ocorre de maneira codificada) enfrentada por um homem ou uma comunidade. As codificações devem ser reproduções de realidades comuns aos discentes, apresentadas por intermédio de gravuras, fotografias, textos, ou até de maneira oral. A codificação é submetida a uma descodificação, que consiste no exame crítico feito pelo educando sobre a situação codificada. Segundo Freire, o êxito neste processo é obtido quando a descodificação conduz o sujeito à percepção total e crítica do concreto.
      Nesta metodologia o educador ou a equipe de educadores visualiza e aponta o tema gerador, e, junto aos educandos, o problematiza, a fim de superar a contradição existente na temática. A problematização se dá no diálogo e desafios propostos nos “círculos de investigação temática” ou “círculos de cultura”, o qual integram educadores e educandos. Ademais, o educador é incumbido de observar se houve ou não alguma transformação no modo do discente captar a realidade.


      Frederico Affonso de Araújo Medeiros

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      1. Para o educador bancário, a pergunta não é propósito de conteúdo de diálogo, mas é a respeito do programa. Portanto ele mesmo responderá organizando seu programa.
        Para o educador - educando, dialógico, problematizador, a pergunta representa uma devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo mediante elementos que o próprio povo lhe entregou de forma desestruturada.
        De acordo com as concepções freireanas, a inquietação em torno do conteúdo do diálogo é a inquietação em torno do conteúdo programático da educação. Para caracteriza-se como prática da liberdade, a sua dialogicidade deve começar quando aquele se pergunta em torno do que vai dialogar com estes.

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    2. • Ação-Reflexão-Ação (Práxis)

      Práxis é a ação em consonância com a reflexão, incidindo sobre a realidade. Este termo é usado filosoficamente desde Aristóteles, porém Freire apoia-se na acepção marxista da palavra, uma vez que sua práxis almeje transformar o mundo por meio da atividade revolucionária. O homem é um ser que, diferentemente dos animais, age sobre o mundo, isto é, cria. O homem é um ser da práxis, que parece não exercê-la devido à influência do opressor, que mitifica a sua realidade. Portanto, a práxis que promoverá a superação da relação opressor-oprimido, libertando as massas populares, só será possível através da interação solidária dos conceitos (ação e reflexão), visto que a reflexão desprovida de ação torna-se, segundo Freire, verbalismo, e, outrossim, a ação sem reflexão transforma-se em ativismo.

      • Assistencialismo

      A falsa generosidade ou assistencialismo é uma forma de amenizar o ato de oprimir, ou melhor: de suprimir sua aparência, de disfarçá-lo. Para Freire, a genuína generosidade consiste na luta contra a falsa caridade, isto é, a eliminação da relação de subserviência entre oprimido e opressor e a emersão de homens independentes, transformadores do mundo. Freire ilustra esta problemática em “Pedagogia do Oprimido” por meio do “Sermão contra os usurários”, texto de Gregório de Nissa:

      "Talvez dês esmolas. Mas de onde as tiras, senão de tuas rapinas cruéis, do sofrimento, das lágrimas, dos suspiros? Se o pobre soubesse de onde vem o teu óbolo, ele o recusaria porque teria a impressão de morder a carne de seus irmãos e de sugar o sangue de seu próximo. Ele te diria estas palavras corajosas: não sacieis a minha sede com lágrimas de meus irmãos. Não dês ao pobre o pão endurecido com os soluços de meus companheiros de miséria. Devolve a teu semelhante aquilo que reclamaste e eu te serei muito grato. De que vale consolar um pobre, se tu fazes outros cem?"

      Frederico Affonso de Araújo Medeiros

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    3. A palavra se torna sem sentido quando é uma denúncia por si só, desacompanhada de ação, mas também a ação sozinha inviabiliza o diálogo, notadamente não teremos a importância da práxis, que é formada por ação-reflexão-ação.

      O diálogo se estabelece no contato entre as pessoas, mediado pelo mundo, e não apenas entre dois ou mais sujeitos, no qual há apenas uma troca de ideias, deve ocorrer através de uma problematização e visando a libertação de ambos. Logo, a humildade é imprescindível nesse processo dialógico, fazendo com que não se torne um ato alienado ou alienante.

      Para haver confiança no diálogo entre os homens, é imprescindível que exista confiança na palavra do outro, uma vez que é necessário que a palavra seja acompanhada de ações verdadeiras ou, pelo menos, de reais intenções.

      O conteúdo programático da educação deve ser viabilizado pelo diálogo com os educadores-educandos, mediatizados pelo mundo, para assim, fazer com que se pronunciem de forma contínua, dialética e reflexiva. A educação deve ocorrer de maneira horizontal e sistematizada, a qual deve ser pautada pela busca da liberdade de ambos.

      É no diálogo problematizador, crítico e reflexivo que o educador consegue libertar o educando e, ao ser também libertado em um processo constante de criação e recriação, a relação eu-tu é substituída por uma relação de solidariedade reflexiva.

      Agenor Costa e Gisllayne Brandão

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    4. COMENTÁRIO: Ariane Rochelle

      A ação-reflexão-ação traduz o verdadeiro sentido da práxis,pois,não basta agir e pensar sobre, é necessário que se volte a agir de maneira aprimorada e assim dar uma continuidade relevante a nossas ações, pensando sempre, mais e mais. senão estariamos reproduzindo ações sem levar em conta os fenômenos e caminhos para uma real mudança.

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    5. Diálogo:

      Fenômeno estritamente encontrado nas relações humanas, mediadas pelo mundo, que revela a PALAVRA geradora da ação e reflexão, ou seja, práxis transformadora da realidade concreta das partes envolvidas.
      Na relação dialógica, alicerçada pela ação e reflexão, só haverá transformação da realidade se os homens estiverem envolvidos, no sentido de querer e agir, na situação concreta.

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    6. Comentários de: Cilene Menezes e Margareth Furtado

      FREIRE, Paulo. A dialogicidade: a essência da educação como prática da liberdade. In: ______. Pedagogia do oprimido. 17.ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.p.77-120.

      Conceitos Freireanos:
      • Ação-Reflexão-Ação (Práxis)
      “Não há palavra verdadeira que não seja práxis” (FREIRE, 1987, p.77)

      Na sua relação com o mundo o homem é agente transformador da realidade. Para tanto, ele faz uso de sua capacidade de ação e reflexão crítica. Assim, através da práxis (ação-reflexão-ação) ocorrem mudanças de humanização no mundo. Nesse processo percebe-se uma relação dialética entre o homem e o mundo; ao mesmo tempo em que ele age sobre a realidade, esta mesma realidade o transforma. Assim uma ação leva a reflexões, a própria reflexão retorna em forma de outra ação, que agora é uma ação com reflexão.

      • Conscientização
      “Conscientização, é óbvio, que não pára, estoicamente, no reconhecimento puro, de caráter subjetivo, da situação, mas, pelo contrário, que prepara os homens, no plano da ação, para a luta contra os obstáculos à sua humanização”. (FREIRE, 1987, p.114)

      A conscientização pode ser entendida como uma reflexão critica sobre a práxis (ação e reflexão). O despertar da conscientização vem antes de tudo do diálogo (ético), através da palavra verdadeira representada pela ação concreta e do pensamento crítico. Assim, construindo uma reflexão sobre uma realidade tendo como objetivo a humanização.
      • Dialogicidade (DIALOGAÇÃO)

      Freire (1987, p.79) parte da concepção de que: “Não pode haver diálogo, sem que haja um profundo amor ao mundo e aos homens”.

      O dialogo é o recurso que o homem utiliza para compreender o mundo a sua volta. A dialogicidade representa o querer falar(com), querer se fazer entender, participar, ouvir opiniões e interagir; passando este diálogo a gerar uma comunicação verdadeira, de confiança baseada fundamentalmente no amor, na humildade, na esperança, na fé construindo assim, uma relação harmoniosa (dialógica).

      • Conteúdo programático

      Para o educador educando-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou imposição [...] mas a devolução organizada sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. (FREIRE, 1987, p.83-84).

      O conteúdo programático reflete o diálogo entre o educador e o educando. A construção e definição desses conteúdos são previamente planejadas considerando a realidade vivenciada. Isto implica ao docente conduzir um diálogo critico sobre temas significativos baseado na realidade, que faça sentido para o educando. Além disso, expor problemáticas que proporcione um olhar diferenciado aos temas, de forma a contribuir para reflexão, aprendizado e conscientização.
      • Educação Bancária
      “Nosso papel não é falar ao povo sobre nossa visão do mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com sobre a sua e a nossa”. (FREIRE, 1987,p.87)
      A educação bancária reflete a ausência de diálogo (comunicação) entre os atores do processo educativo, contribuindo para continuidade de um modelo de educação opressora, que não contempla o diálogo e troas de experiências entre professor e aluno. Assim, o conteúdo programático (bancário) quando é imposto reforça a dominação.


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    7. Anete Alves
      “A educação autentica não se faz de A para B sobre A, mas de A com B, mediatizados pelo mundo. Na visão de Freire, o diálogo mais que um instrumento do educador é uma exigência da natureza humana. O diálogo proposto por Freire é exigente e tem suas condições, como o amor ao mundo e as pessoas, a humildade, a fé nas pessoas, a esperança e um pensar verdadeiro.
      Percebe-se que o diálogo é o instrumento para se descobrir a educação problematizadora e é a tentativa de renovação da sociedade. O mesmo compõe-se de palavra, entra aqui um conceito importantíssimo para este educador pernambucano, na palavra há duas dimensões: ação e reflexão, solidárias entre si; não há palavra verdadeira que não seja práxis, podendo-se, assim, afirmar que a função da palavra verdadeira seja a de transformar o mundo. É por meio do diálogo, também, que se elabora o conteúdo da educação, pois este não é trazido pronto, mas concebido e realizado no grupo, nasce das situações históricas dessa comunidade educativa e educadora.
      Para Paulo Freire, o processo de conscientização, o como do ato de conscientizar-se, dá-se pela educação, educação libertadora e inserida na realidade, o que a torna oposta à educação bancária, incapaz de ser instrumento para a liberdade.

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